Um espelho para os golpistas

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A “Der Spiegel”, da Alemanha, acaba de publicar longo texto sobre o Brasil. Abaixo você confere a tradução para o português. Esperamos que, conforme pretende o título da revista, ele sirva de “espelho”, a refletir a imagem do nosso golpismo.

Crise de Estado no Brasil: o “Golpe Frio”

por Jens Glüsing

Os oponentes de Lula parecem ter conseguido aquilo em que sua frágil sucessora Dilma Rousseff falhou desde que tomou posse: re-aglutinar ao Governo a base do Partido dos Trabalhadores do Brasil, os sindicatos e os movimentos sociais.

Centenas de milhares de apoiadores de Lula protestaram na sexta-feira à noite em todo o país contra a tentativa de forçar a saída da presidenta de seu cargo por meio de impeachment (Impeachment). Na Avenida Paulista, em São Paulo, que é considerado como um termômetro para os protestos, eles ocuparam onze quadras da cidade. As manifestações permaneceram calmas e Lula, conciliador, ele se absteve de ataques contra o sistema judicial e fez um chamado para o diálogo. Discursos de ódio raramente podiam ser ouvidos nas manifestações no Rio e em São Paulo. Ao contrário do protestos em massa contra o governo na semana passada em massa, aos quais se juntam cada vez mais golpistas, extremistas de direita e intolerantes. Eles não representam a maioria dos manifestantes, mas eles ganham popularidade. Isto é preocupante para a ainda jovem democracia brasileira.

Pela primeira vez desde o fim da ditadura militar em meados dos anos oitenta, uma crise política que poderia destruir muitas das realizações dos últimos trinta anos ameaça o maior país da América Latina. Parte da oposição e do Judiciário jogam lenha, juntamente com o poderoso grupo empresarial da TV Globo, em uma verdadeira caça às bruxas contra o ex-presidente Lula.

Sérgio Moro, um ambicioso juíz de Curitiba, no Sul do Brasil, aparentemente, tem apenas um objetivo: colocar o ex-presidente atrás das grades. Moro conduz o inquérito sobre o escândalo de corrupção que cerca a empresa petrolífera estatal Petrobras, envolvendo centenas de executivos, lobistas e políticos, incluindo vários altos representantes do Partido dos Trabalhadores de Lula.

Como um furacão, o juiz varreu a elite política e econômica do Brasil. Ele descobriu bilhões em corrupção. Mais de cem suspeitos estão na prisão, a maioria sem condenação. Muitos brasileiros celebram o juiz como um herói nacional.

Poucas Provas

Mas nos últimos meses, aparentemente o sucesso subiu à cabeça de Moro. O juiz faz política, o que não é para ele. A publicação de conversas telefônicas interceptadas entre Lula e Dilma poucas horas antes da nomeação de Lula como Ministro-Chefe da Casa Civil serviu para fins políticos e foi juridicamente duvidosa, para dizer o mínimo.

Moro até agora não tem sido capaz de alinhavar uma acusação contra Lula, embora dezenas de promotores e agentes federais em Curitiba tenham passado meses vasculhando as finanças e condições de vida pessoais do ex-presidente. As provas são ainda muito escassas.

Lula não tem milhões na Suíça, como o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Cunha é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e um juiz de Corte Superior a ele se referiu como um criminoso. Mas isso não o impede de manter a presidência da Câmara que é responsável pelo impeachment da atual presidenta.

Nesta honorável Câmara, tem assento, entre outros, um ex-governador do estado de São Paulo que foi condenado na França por acusações de corrupção, mas não foi entregue pelos brasileiros em extradição, por ser brasileiro.

O fato de que tais figuras tenham um papel chave para derrubar uma presidenta que não possui nenhuma culpa anterior mina a legitimidade de todo o processo.

Partidários de Lula alertam contra um golpe frio contra a democracia brasileira. E essa preocupação não surge do nada.

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